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Igreja Católica luta para recuperar a confiança na Bélgica

Published on: terça-feira, 22 de junho de 2010 //

O fato de a Igreja Católica Romana estar reagindo de maneira mais agressiva ao abuso de crianças por padres pode não ser um acidente.


Os belgas ficaram altamente sintonizados no assunto como resultado de um terrível caso de abuso sexual e assassinato, que levou a protestos nacionais há mais de uma década. Aquele caso gerou um painel de elite para enfrentar a onda de relatos de abuso que se seguiram, inclusive contra membros do clero.


Como resultado, a igreja estabeleceu uma comissão independente em 2000 para lidar com as acusações contra padres. Mas a comissão caiu rapidamente para a irrelevância, tratando de apenas 33 casos em 10 anos e muitas vezes se vendo engessada por uma falta de cooperação da igreja. Neste ano, em meio a um crescimento de escândalos de abuso sexual por toda a Europa, a comissão foi reavivada, com um renomado especialista em abuso de crianças no comando e uma nova atmosfera de possibilidades – enquanto a Igreja Católica trabalha para recuperar sua confiança local.


Mas a igreja está se esforçando nesse sentido, à medida que esta sociedade tradicionalmente católica se torna mais secular, e conforme as posturas se endurecem em relação a acobertamentos percebidos ao longo dos anos. E com essa nova comissão libertando um dilúvio de casos de abuso não relatados, a igreja enfrenta o risco de ter sua confiança ainda mais danificada com a divulgação dos detalhes.


“Eles estão sempre falando sobre serem francos”, disse Linda Opdebeeck, de 46 anos, que foi abusada sexualmente por um irmão da ordem marista em sua escola católica, em Oudergem, por vários anos, desde que tinha 13. “Eles podem ser francos? Eu não sei. Não acredito nisso agora”.


Mas Opdebeeck, que nunca abordou a comissão nos 10 anos sob seu líder anterior, disse que o novo presidente, Peter Adriaenssens, psiquiatra infantil, era o homem certo para a função. Ela decidiu escrever uma carta para a comissão, uma entre mais de 400 alegações que surgiram nas últimas semanas.


“A igreja não restaurou a confiança das pessoas, pois ela não queria, ou não podia, revelar o passado”, disse Lieven Sioen, que escreveu sobre a comissão para o jornal belga “De Standaard”. “Mas o professor Adriaenssens é o grande especialista em abuso infantil, e as pessoas têm muita confiança nele”.


Adriaenssens é professor de psiquiatria infantil na Universidade Católica de Lovaina e chefe do departamento clínico de psiquiatria infantil do hospital universitário. Ele também é diretor do Centro Confidencial de Abuso e Negligência Infantis, uma iniciativa financiada pelo governo de Lovaina.


Ele foi um dos especialistas originais do painel de elite que pediu pela criação da comissão, logo após o caso Marc Dutroux.


Dutroux foi preso em 1996 acusado de sequestrar, torturar e abusar sexualmente de seis meninas, quatro das quais teriam morrido. Em 2004, ele foi julgado e condenado à prisão perpétua. Numa entrevista recente, Adriaenssens afirmou que seu trabalho naquela ocasião o ajudou a estabelecer importantes relacionamentos, incluindo com o atual ministro da justiça do país – que ajudaria imensamente a nova comissão.


Porém, a complicada primeira década da comissão ilustra como o sucesso ou fracasso de tal tarefa depende do comprometimento de todos os lados, além de um processo completo. O ex-presidente da comissão recentemente reclamou, na mídia belga, que os padres e seus superiores frequentemente se recusavam a cooperar com as investigações da época.


“A comissão tinha um trabalho duro”, disse Adriaenssens, que assumiu a presidência da comissão em janeiro. “Em alguns arquivos havia uma conclusão bastante clara da comissão, e ela não era cumprida pelos bispos. Muitas vezes, essas histórias pioneiras são cheias de frustração. Mas no longo prazo ela foi eficaz, pois hoje podemos colher os frutos plantados ali”.
O aumento dos escândalos dentro da igreja, nas vizinhas Alemanha e Holanda, provavelmente encorajou o relato de 20 novos casos daqui nos primeiros meses de 2010. Porém, a represa explodiu quando o bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, anunciou sua renúncia, em 23 de abril, por ter molestado um menino.


Na coletiva de imprensa daquele dia, o arcebispo Andre-Joseph Leonard, do arcebispado de Mechelen-Bruxelas, disse que a igreja da Bélgica iria “mudar a abordagem de um passado não muito distante, quando tais assuntos passavam em silêncio ou eram ocultados”.


Adriaenssens disse que as palavras de Leonard tinham um efeito significativo. “De repente, na televisão, eles ouviram seu chefe, o arcebispo, dizendo ‘Não vou mais acobertá-los’”, disse Adriaenssens. “Nestes primeiros casos, estou impressionado pelo fato de que uma grande maioria, quase todos esses padres, está cooperando amplamente por sentirem a pressão da opinião pública, a pressão dos bispos”.


Adriaenssens disse estar baseando o trabalho da comissão na Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul, que foi comandada pelo arcebispo Desmond M. Tutu. Os comissários já tiveram 60 sessões com vítimas, perpetradores ou ambos, e esperam completar rapidamente seu trabalho, em apenas quatro meses – para então emitir um relatório completo.


“Observamos, neste momento, que a maioria dessas pessoas nos conta histórias muito mais graves do que tínhamos notícia, pois tínhamos uma ou duas das vítimas e elas nos contam de mais 20”, afirmou Adriaenssens.


O reverendo Rik Deville, de 66 anos, padre aposentado em Halle, perto de Bruxelas, começou a reunir casos de abuso em 1992. Hoje, ele possui pastas com mais de 300 casos sobre a mesa de jantar de sua casa. Conhecido como uma pessoa irritante dentro da igreja belga, ele não se deu bem com o primeiro presidente da comissão, mas elogiou muito Adriaenssens, com quem ele se encontrou duas vezes.


“Para mim, foi a primeira vez que eu podia falar disso com uma delegação da igreja e acreditar na conversa”, explicou Deville.


Mas ele também questionou o escopo da comissão, pelo qual o foco declarado do presidente é a cura e a transparência, deixando a compensação da vítima para os tribunais. “Ele não deve lidar com dinheiro, e isso é muito bom para os bispos”, disse Deville.


Algo ainda incerto, também, é quão dedicada a igreja realmente está à transparência, e quão prejudicial poderia ser uma prestação de contas abrangente. Deville afirmou ter dito ao cardeal Godfried Danneels, o predecessor de Leonard, que deixou o cargo em janeiro, a respeito das alegações de abuso contra Vangheluwe, há mais de uma década.


Adriaenssens disse que a igreja havia demonstrado um compromisso em revelar a verdade, mas que se demitiria caso esse compromisso perdesse a força. “Eles deixaram bem claro que seguirão, sem discussões, os conselhos da comissão”, concluiu ele.


“No entanto, é claro que, quando enviarmos nossas conclusões a Roma, naqueles casos onde achamos que a resposta deva ser mais severa, aí dependeremos do que Roma disser”, acrescentou Adriaenssens. “Veremos”.


Fonte: G1 / HD News


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